O surgimento e o desenvolvimento da sociedade humana estão diretamente ligados ao trabalho do homem. É por meio do trabalho que o homem produz os objetos e bens materiais necessários à sua sobrevivência, pois antes de se dedicar a qualquer atividade ele necessita comer, beber, vestir-se, morar, etc. O trabalho significa o processo de transformação de um objeto determinado em um produto capaz de satisfazer as necessidades humanas. Ao contrário dos animais que se adaptam passivamente ao meio natural, o ser humano age ativamente sobre este, transformando-o em bens materiais necessários a sua existência. Esse processo de produção pressupõe a utilização de instrumentos produzidos por ele. A fabricação de instrumentos é o aspecto fundamental que distingue o humano dos outros animais. A evolução só foi possível quando os seres bípedes puderem liberar as mãos para o trabalho, as quais puderam ser utilizadas para a produção de instrumentos como machado de pedra, faca etc. A liberdade das mãos combinada a um cérebro mais desenvolvido originou, por meio do trabalho, um ser que fabrica instrumentos e que desenvolve capacidade para projetar e antecipar o resultado de sua própria ação, um ser que pensa. O trabalho não é uma maldição divina (“comerás o pão com o suor do teu rosto” Gênesis, 3:19), mas a condição objetiva da existência e evolução humana. O homem e a sociedade não escolhem, por sua própria vontade, os instrumentos de trabalho. Cada nova geração se depara com os instrumentos/ferramentas criados pelas gerações anteriores e deles se serve aperfeiçoando-os e modificando-os. Do arado ao trator e destes às modernas colheitadeiras informatizadas é uma trajetória que passa por muitas gerações, num processo de desenvolvimento tecnológico e do conhecimento. Tudo motivado pela necessidade de produzir o seu sustento e o de seus semelhantes, devido aos processos de crescimento populacional. Da mesma forma, os instrumentos de trabalho, a tecnologia e o conhecimento se desenvolvem sob certa ordem de sucessão. A humanidade não poderia, por exemplo, passar diretamente do cata-vento à produção da energia atômica. Cada nova tecnologia, aperfeiçoamento ou conhecimento está condicionado à acumulação gradual da experiência produtiva, à obtenção de certos hábitos de trabalho. O trabalho e a produção são o motor do desenvolvimento histórico da humanidade. A compreensão do trabalho como princípio educativo é o elemento básico para a organização curricular, definição de conteúdos ou atividades e estabelecimento de metodologias nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IF). A afirmação do trabalho como princípio educativo corresponde à concepção de que o os seres humanos são produtores da realidade em que vivem, são capazes de reivindicar essa realidade para si e de atuar para sua transformação. Assume-se, pois, que os seres humanos são sujeitos de sua história e de sua realidade. O trabalho é a primeira mediação entre o homem e a realidade material e social. Ao prover o seu sustento, o homem estabelece relações com a natureza e a sociedade, aprendendo a conhecê-las, a dominá-las e a transformá-las. Na busca da sobrevivência ele constrói instrumentos, cria novas tecnologias e desenvolve as forças produtivas fazendo avançar os processos de desenvolvimento histórico. Na concepção do filósofo italiano Antonio Gramsci, o trabalho é definido como atividade prática do homem. Gramsci compreendia que uma educação fundamentada na atividade prática cria uma visão do mundo libertada de toda magia, de toda feitiçaria e contribui para uma interpretação histórica, de movimento, do mundo, fornecendo o ponto de partida para o desenvolvimento de uma concepção histórica e dialética. Para ele, o trabalho é a mediação concreta, efetiva entre teoria e prática. Esse é o fio condutor do processo civilizatório. Entretanto, o homem somente será sujeito desse processo se tiver consciência das leis que o regem e ao agir sobre este. As relações entre homem, natureza e sociedade se estabelecem em um movimento dialético no qual todos influenciam e sofrem influência, sendo o homem, no sentido coletivo, o elemento central. A concepção do trabalho como princípio educativo pressupõe, também, uma relação indissociável entre trabalho, ciência, tecnologia e cultura. A cultura estabelece a síntese entre a formação geral e a formação específica, permitindo a compreensão do momento histórico e dos meios de fazê-lo avançar no sentido do progresso. Essa é a dimensão ideológica que nos transforma em sujeitos da história, com visão crítica e compromisso com o avanço progressista da sociedade. Logo, formação específica, formação geral e cultura são pontos indissociáveis de uma formação integral. O trabalho nos forma e nos desafia a encontrar novas soluções técnicas e tecnológicas, mas também somos desafiados, cotidianamente, a transformá-lo em um instrumento de libertação.
Eliezer Pacheco e Caetana Silva