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quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

PISTRAK, MOISEY MIKHAYLOVICH

Professores, gestores e estudantes dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, assim como todos aqueles interessados em conhecer iniciativas pedagógicas dignas de destaque pela sua importância social e relevância teórica não podem deixar de ler e discutir os Fundamentos da Escola do Trabalho: Uma Pedagogia Social, livro inicialmente publicado em 1924, por meio do qual Pistrak registra e analisa as bases teóricas e práticas da Escola-Comuna Experimental e Demonstrativa L. N. Lepeshinskiy. Doutor em Ciências Pedagógicas, sob a orientação do Comissariado Nacional de Educação (NarKomPros), órgão coordenador da política educacional, criado logo após o triunfo da Revolução Russa, Pistrak dirigiu com pioneirismo essa escola-comuna de 1918 a 1924. No contexto das experimentações pedagógicas soviéticas da época, a escola é uma comuna, um organismo ao qual se associam membros de uma coletividade escolar. Inserida nas redes sociais e econômicas próximas, é também chamada de Escola Única do Trabalho. Mista, compreendia um núcleo comum destinado aos alunos de oito a dezessete anos de idade e um jardim de infância para crianças a partir dos seis anos. Voltada para a formação do sentimento de responsabilidade pessoal e da noção de interesse geral, caracterizava-se pelo grande apelo à educação da liberdade de pensamento e ação. Nesses termos, funcionava sem métodos coercitivos. Orientada pelo trabalho como princípio educativo, não tinha finalidade profissionalizante. Os pilares das escolas-comuna eram, portanto, o trabalho, a auto-organização ou autogestão e a realidade ou momento atual vivenciado pelo país. Pistrak é o organizador do livro coletivo denominado A Escola Comuna, que traz uma importante documentação histórica sobre as lidas dos pioneiros da educação da Revolução Russa de 1917 na criação do novo sistema educacional. Para todos aqueles que, sendo professores, gestores e estudantes, buscam o sentido de uma nova forma escolar, de como construir uma educação engajada com os ideais da formação omnilateral do ser humano e da transformação social, as contribuições de Pistrak oferecem acúmulos valiosos tanto práticos quanto teóricos. Ele é também autor do livro Ensaios Sobre a Escola Politécnica, publicado, inicialmente, em 1929. Em 1931, passou a trabalhar no Instituto de Pedagogia do Norte do Cáucaso e, em 1936, a dirigir o Instituto Central de Pesquisa Científica de Pedagogia. Pistrak nasceu em 1888 em Kamianets-Podilskyi, uma pequena e antiga cidade, atualmente integrante da Ucrânia. Faleceu aos 49 anos de idade, em 1937, tendo deixado um importante legado para repensar e reformar a escola. Para ele, a questão pedagógica ou o como se ensina e educa é uma questão política no sentido pleno, não apenas uma questão técnica. Buscou traduzir, no plano da educação, o ponto de vista das lutas pela emancipação dos trabalhadores e das decisões estratégicas pedagógicas e institucionais dos primeiros anos da jovem União Soviética. Enfrentou, também, o desafio de contribuir para pôr fim ao despotismo da escola czarista, sua fabricação de hierarquia de classes e elitismo. Assumiu a tarefa de colaborar na criação de um novo sistema educacional apto a forjar uma nova mentalidade, uma nova ética escolar num contexto de grande escassez de recursos materiais, de professores e de crise quase permanente provocada pelas hostilidades das forças conservadoras. Nas obras de Pistrak, seja como fundamentação teórica ou nas suas explanações de práticas, ressaltam-se três dimensões importantes e originais do trabalho pedagógico desenvolvido: a relação entre a escola e o trabalho, a auto-organização da escola-comuna e o planejamento e organização do ensino com base do sistema dos complexos. Todas as três decorrem do conceito de trabalho como princípio educativo, assim compreendido como parte integrante do currículo e expediente do processo de aprendizagem, como elemento crucial da auto-organização escolar, da participação dos membros do coletivo na sustentabilidade escolar e na relação com a comunidade do entorno por meio de ações concretas e diretas de colaboração. Pistrak se ocupa, nas suas análises e elucidações de atividades concretas, do sistema dos complexos como motor de transformações pedagógicas. Proposto em 1922 pelo Comitê Científico do Estado (Gous) às escolas, tem sido interpretado como estratégia precursora da organização curricular interdisciplinar. Porém, para além do necessário amálgama de conteúdos disciplinares a serviço das aprendizagens, da organização do ensino por meio de temas socialmente significativos, esse sistema representa uma forma de estruturar todo o trabalho da escola coerentemente com o método dialético de interpretação e transformação da realidade. O ensino é organizado em torno da noção de trabalho definida como processo originário de relações sociais mediante o qual se entrelaçam transformações na natureza e no homem e que permite estudar cada objeto no contexto da sua realidade dinâmica e a partir de diversos pontos de vista. Com isso se favorecem a inventividade e o espírito crítico dos educandos, sensibilizando-os com respeito às relações com a natureza e com os demais semelhantes, de forma a considerar formas de trabalho, princípios que as regem e como essas são constituídas e engendradas socialmente. Trata-se de uma pedagogia global que educa a todos, educandos e educadores, num mesmo movimento de intervenção e transformação social. Ano após ano e na medida da necessidade de aprofundar e ampliar os temas, são introduzidos novas ferramentas conceituais e tecnológicas para assimilação e utilização não apensas em salas de aula, mas em todos os outros espaços do trabalho pedagógico, dos seus vínculos com as várias dimensões da vida concreta. Para Pistrak, os conteúdos e métodos de ensino devem oferecer princípios que tornem possível uma avaliação moral da condição humana e instrumentos para a luta pela superação dos obstáculos à emancipação social. Nesse sentido, eles devem ser vivos e concretos, ligados de forma indissolúvel com as experiências de vida dos alunos e com as exigências históricas da sociedade presente. Com o princípio do politecnismo, vinculado ao objetivo do desenvolvimento omnilateral dos educandos, busca articular o conhecimento científico e técnico com a utilização prática de múltiplas ferramentas, de forma a estreitar as relações entre planejamento e execução, gestão e auto-organização escolar, aprendizado da convivência, da cooperação e da liderança, levando-se em conta os contextos dos principais ramos da produção social. Sem dúvida, Pistrak nos oferece contribuições muito relevantes para se pensar nos dias de hoje as transformações necessárias a serem realizadas nas escolas e no trabalho pedagógico.

 

Lucília Regina de Souza Machado