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quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

TECNOLOGIA

Os Institutos Federais têm nesse termo um dos elementos da sua designação e identidade, pois são instituições de educação profissional, ciência e tecnologia. Tecnologia, para os Institutos Federais, é também uma das categorias ou dimensões centrais da sua concepção pedagógica, articulada a três outras: a do trabalho, a da cultura e a da ciência. Propostas educacionais, especialmente as comprometidas com a formação integral e a emancipação humana, também vêem a tecnologia como um de seus componentes indispensáveis. Karl Marx incluiu a educação tecnológica na perspectiva da politecnia no programa de educação da classe trabalhadora. Ele entendia ser ela importante para o ganho de tempo e o aumento da produtividade e, livre do controle capitalista, seria fundamental para gerar mais tempo livre para as pessoas. Fundamental para a transformação de materiais, energia e informação, não se pode ver a tecnologia como um elemento neutro. As relações que ela guarda com a economia, a política, a cultura e o meio ambiente precisam ser discutidas e problematizadas. Se concebida, controlada e utilizada com a perspectiva social e de respeito à dignidade humana pode cimentar inovações e transformações importantes, contribuir para a melhoria da qualidade de vida e garantir um horizonte de futuro mais alentador para a humanidade. O problema é que nem sempre isso ocorre haja vista ser um suporte fundamental ao belicismo e à disputa armamentista entre as nações. Tecnologia, portanto, é um fator de grande influência na sociedade. Sua presença está cada vez mais frequente na vida social e no quotidiano das pessoas. Sua influência, positiva ou negativa, recai sobre questões éticas. Daí, seu lugar e importância na formação do indivíduo. Não se pode desconsiderar também seu impacto na uniformização da cultura. E isso precisa ser mais discutido. Tecnologia também tem presença certeira nos projetos de desenvolvimento social. Por conta disso, os Institutos Federais, desde seu nascimento, são chamados à inserção social e à colaboração com arranjos produtivos locais. Há muitas expectativas com o ensino da tecnologia e, por conseguinte, também com as possibilidades dos Institutos Federais de contribuir com a pesquisa, a extensão e a formação de pessoas capazes de fazer avançar a prática social e produtiva. Mas sempre é bom perguntar sobre quais capacidades, para quais criatividades e de que forma se faz a educação tecnológica. Nem sempre as referências na condução dessas ações são convergentes. Subjacente à tecnologia há intenções humanas, realidades físicas e sociais vistas como alvo de mudança, saberes de diferentes origens, soluções fundamentadas em paradigmas diferentes. É preciso sempre perguntar sobre as motivações que originaram as vontades e as intenções com respeito à concepção, controle e uso das tecnologias. Tais questões não estão fora dos contextos das sociedades, refletem interesses sociais, formas de conceber a relação entre ciência e técnica, elementos da cultura dominante, ambientes e objetos técnicos, métodos e regras a serem observados, ferramentas materiais e simbólicas, linguagens e gestos, práticas vistas como imprescindíveis para o sucesso. Mas, qual sucesso e a custo de quê? Tecnologia é, portanto, produção social. Nesse sentido, guarda ligação estreita com a estrutura social. Da mesma forma, as técnicas por ela utilizadas e o discurso que ela constrói sobre e a partir dessas técnicas. Por isso quando tecnologia também se torna matéria escolar é importante levar em conta as implicações que possa ter com finalidades educacionais, questões epistemológicas, políticas, pedagógicas e psicológicas. A escola precisa considerar os interesses sociais, econômicos e políticos envolvidos na tecnologia. A ela cabe perguntar sobre os saberes pelos quais se construíram as normas técnicas e o que as justificam. A ela cabe indagar sobre a garantia que essas normas trazem à execução adequada de uma atividade e se elas guardam coerência com princípios éticos. Cabe à escola não ocultar o papel e o funcionamento social dos saberes relacionados às práticas técnicas e lembrar sempre que há outras naturezas de saberes além do científico. Esses saberes encontram-se relacionados a outras modalidades de expressão, aos papeis sócio-profissionais e aos instrumentos utilizados. Entretanto, nem sempre os aspectos humanos e sociais são trazidos à tona. E por que isso? Várias são as pontas às quais se ligam o entendimento do que é tecnologia e as possíveis respostas para essa questão. Uma delas parece preceder todas as demais. Trata-se do simples fato de que tecnologia como atividade humana tem seu significado revelado como ciência do trabalho. A matéria da qual ela trata é precisamente o trabalho humano, tudo o que envolve as condições, meios e formas de intervir na transformação da realidade. Nesse sentido, a tecnologia vem a ser um discurso argumentado sobre as técnicas e os objetos técnicos cujas premissas, pressupostos, pretextos ou alegações podem ter maior ou menor ligação com conceitos teóricos científicos, ser generalizáveis ou revelados abertamente. Apesar disso e por isso mesmo, precisam ser conhecidos, desnudados e, se for o caso, contrapostos.

Lucília Regina de Souza Machado