Apesar de ser um dos fundamentos estruturantes da ação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, a questão da territorialidade é, em geral, subestimada e pouco debatida. Compreendida muitas vezes apenas em relação a espaços e limites geográficos, a territorialidade para essas instituições deve ser tratada em um sentido mais amplo. Essa noção é tributária do pensamento do geógrafo Milton Santos, que se ocupou, entre vários outros aspectos, dos usos da noção de território e os sentimentos de identidade e pertencimento. É preciso ter em mente que a missão dos Institutos Federais, como instituições públicas de ensino, pesquisa e extensão, pressupõe o compromisso da realização dessas atividades em estreita vinculação com os processos políticos, econômicos, sociais e culturais dos territórios que integram. Entre as finalidades dessas instituições está o dever de colaborar com o desenvolvimento local, regional e nacional, no sentido de um desenvolvimento soberano, sustentável e inclusivo, alcançado por meio da promoção de tecnologias sociais e da formação de profissionais capazes de produzir conhecimento e transformações no mundo do trabalho. O ideal de atuação em rede é outro ponto importante a ser considerado, uma vez que potencializa o sentido de território para os Institutos Federais e demais instituições integrantes da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Em perspectiva ampliada, a ideia-força da territorialidade presente no projeto político-pedagógico dos Institutos Federais se aproxima em grande medida à de territórios educativos. A ideia de território educativo, por sua vez, vincula-se à concepção de educação integral e à compreensão da participação dos diferentes sujeitos nos processos educativos desenvolvidos nos diversos espaços de vida social. Na concepção dos Institutos Federais, a organização multicampi, no horizonte institucional, e a atuação em rede, no horizonte interinstitucional, deve extrapolar as funções tradicionais e caminhar na direção da consolidação de territórios educativos capazes de promover a formação integral dos educandos e de exercer um papel educador na vida dos demais sujeitos. Nessa dinâmica, os territórios interagem com os campi/instituições, recebendo sua influência e influenciando-os com sua realidade socioeconômica e sua cultura, educa e é educado. A realidade socioeconômica impacta diretamente no desempenho dos estudantes em todas as áreas e não pode ser ignorada. O planejamento em ensino, pesquisa e extensão precisa levá-la em conta no estabelecimento de um diálogo permanente com o território. Os desafios didático-pedagógicos não são resolvidos apenas a partir da sala de aula, do laboratório ou da biblioteca. Os prédios e terrenos de um campus podem ser vistos como bases de apoio, sem perder de vista a necessidade de mapear todas as organizações educacionais, culturais, de saúde, sindicais, populares, de segurança etc. e atuar na direção de uma ação educativa e protetiva envolvendo todas essas instituições, somando suas atividades específicas. As instituições de ensino são espaços privilegiados para a identificação das questões que atingem os jovens, impactando na aprendizagem. Mesmo que não caiba a elas a solução desses problemas, ao atuar como parte de um território educativo, poderá encaminhar os educandos às instituições adequadas às questões a serem enfrentadas. Por isto, é necessário um trabalho conjunto permanente, e não apenas pontual, com as demais instituições, especialmente com aquelas de educação pública integrantes do mesmo território. Não podemos esquecer que a estrutura de uma instituição da Rede Federal é um equipamento público que deve estar a serviço da sociedade. Em resumo, a noção de educação integral envolve toda a comunidade, pois uma instituição educacional não é a única que educa e não é capaz de fazê-lo sozinha. Porém, as instituições educacionais devem ser vistas como lugares privilegiados na articulação de um projeto educativo para o território: pela escuta dos sujeitos a ele pertencentes, pela construção de um currículo coerente, pelo estabelecimento de uma relação de mútua aprendizagem entre instituições de ensino e comunidade, pela formação de redes de proteção na conexão das diversas instituições sociais em uma agenda intersetorial permanente voltada ao desenvolvimento pleno da potencialidade humana dos sujeitos do território. É esse o desafio colocado para as instituições da Rede Federal que, por sua concepção, podem ter um papel protagonista nessa tarefa.
Eliezer Pacheco